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Brasil tem tudo para liderar a transição energética global, diz Hudson Mendonça

Em um cenário marcado por crises geopolíticas e emergência climática, o Brasil desponta como um dos países mais bem posicionados para liderar a transição energética global. A análise é de Hudson Mendonça, CEO do Energy Summit e vice-presidente de Energia e Sustentabilidade da MIT Technology Review Brasil. Para ele, o país tem não só os recursos naturais, mas também a base tecnológica e institucional para assumir um papel central na nova ordem energética mundial.

“Desde a minha monografia, estudo inovação. Pela vocação do Brasil e do Rio de Janeiro, não havia como ficar fora da transição energética. Nossa matriz elétrica é 90% limpa, e a energética geral, 50%, o que é um sonho de consumo para a maioria dos países”, afirma Mendonça.

Segundo ele, a energia está no centro das soluções climáticas. “Cerca de 73% das emissões globais de gases de efeito estufa vêm da produção e uso de energia. É impossível discutir mudanças climáticas sem discutir energia. E para transformar esse modelo, precisamos de inovação — porque é ela que acelera a transição.”

Esse é o princípio que move o Energy Summit, evento que Hudson lidera e que se tornou referência na América Latina ao reunir governo, academia, empresas e startups para pensar o futuro da energia. “A pergunta estruturante do evento é: quais os caminhos mais promissores para o futuro da energia? A partir dela, criamos os 10 Megatrends, que cruzam quatro eixos: descarbonização, descentralização, digitalização e democratização do acesso”, explica.

Para Mendonça, esse último eixo — a democratização — precisa estar no centro do debate. “A tecnologia é o atalho para uma transição mais justa. Veja o painel solar: em dez anos, ficou mais barato instalar do que pagar a conta de luz. Não foi por consciência ambiental — foi por eficiência.”

A lógica da eficiência, aliás, é o que ele considera a chave da sustentabilidade real. “A lâmpada LED não venceu porque o consumidor foi educado, mas porque dura mais e gasta menos. Isso é sustentabilidade: quando o melhor produto para o bolso também é o melhor para o planeta.”

Entre os avanços tecnológicos que despontam no horizonte, Mendonça destaca a Commonwealth Fusion Systems, startup ligada ao MIT que recebeu um investimento de US$ 2 bilhões para desenvolver energia de fusão — o mesmo processo que ocorre no Sol. “Se essa tecnologia der certo, muda tudo.”

Mas enquanto o futuro da fusão nuclear ainda se concretiza, o presente exige articulação estratégica — e nisso o Brasil tem uma vantagem. “Temos sol, vento, biomassa, hidrelétricas, petróleo, gás e até urânio. Podemos fazer todas as escolhas. Só precisamos conectar a cadeia produtiva, investir em tecnologia e garantir políticas de longo prazo.”

Mendonça elogia o PATEM (Programa de Aceleração da Transição Energética), lançado em 2025 pelo governo federal, como um passo importante. “O Brasil já é protagonista. O PATEM não inaugura a transição, mas ajuda a organizar o processo.”

Na corrida global pela liderança energética, ele vê a China como exemplo. “Hoje, a China forma mais engenheiros que os EUA e lidera em baterias, mobilidade elétrica e energia solar. Eles estão dominando as cadeias da nova energia. Essa é a disputa do século XXI: quem dominar a cadeia energética terá soberania real.”

Nesse contexto, a COP30, que ocorrerá em Belém (PA) em 2025, terá um papel simbólico e estratégico. “A COP é um espaço de consenso. O Brasil tem autoridade moral para liderar, mas precisa ir além do discurso. O Energy Summit, que acontece antes, vai apresentar tecnologias com potencial de reduzir emissões em 12 meses — e moldar os próximos 10 anos. É disso que precisamos: ação concreta.”

Hudson encerra com uma analogia que traduz a dimensão do momento atual: “Estamos vivendo uma revolução comparável à da internet. A energia será o eixo da transformação das próximas décadas. E o Brasil, se fizer as escolhas certas, pode estar no centro dessa revolução.”

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