O governo Lula (PT) está em fase final de negociações sobre a possível adesão do Brasil à Nova Rota da Seda, um projeto internacional de infraestrutura e comércio liderado pela China. A discussão visa preparar uma posição sólida para a visita do presidente chinês, Xi Jinping, ao Brasil em novembro. No entanto, o debate interno no governo revela precauções em relação à preservação da indústria brasileira.
A Folha de S. Paulo informou que o ministro da Casa Civil, Rui Costa, está à frente da delegação que embarcou para a China no último domingo (13). A missão de Costa é discutir os acordos e delinear pontos críticos de um eventual acerto com os chineses. Para o governo, a adesão à Nova Rota da Seda é vista como uma oportunidade de financiar obras do Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e melhorar a competitividade da economia brasileira. A ex-presidente Dilma Rousseff, presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), o Banco dos BRICS, também tem sido uma importante defensora do acordo.
Xi Jinping visitará o Brasil após a cúpula do G20, marcada para novembro no Rio de Janeiro. Essa visita é vista como uma oportunidade estratégica para o Brasil fortalecer suas relações com a China, especialmente em um cenário de fragmentação política na América Latina. No entanto, a equipe econômica do governo quer garantir que o acordo proteja a indústria nacional e inclua contrapartidas, como transferência de tecnologia e mecanismos que incentivem o comércio de produtos de maior valor agregado.
Em agosto, durante um evento da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o presidente Lula ressaltou que o Brasil não fechará os olhos às oportunidades oferecidas pela iniciativa chinesa, mas alertou que buscará acordos vantajosos para o país. “Nós vamos discutir. Nós não vamos fechar os olhos, não. Nós vamos dizer: ‘o que tem para nós? O que eu ganho?’”, declarou.
A Nova Rota da Seda, formalmente conhecida como Iniciativa do Cinturão e Rota (BRI, na sigla em inglês), já mobilizou US$ 2 trilhões em contratos internacionais, envolvendo a construção de portos, rodovias e ferrovias. O Brasil, até o momento, é um dos poucos países da América Latina que ainda não aderiu ao projeto. Durante a visita de Lula a Pequim no início do ano, esperava-se que um acordo fosse firmado, mas a decisão foi adiada.
Dentro do governo, Rui Costa e Celso Amorim, assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, defendem que a adesão seja bem planejada e que proteja os interesses nacionais. Amorim ressalta que o acordo com a China não significa o Brasil abandonar outras parcerias globais. Ele argumenta que a entrada na Nova Rota da Seda pode inclusive ampliar as relações do Brasil com potências ocidentais, incentivando parcerias em setores estratégicos, como saúde, satélites e semicondutores.
Por outro lado, o setor industrial brasileiro expressa preocupação. Marco Polo de Mello Lopes, presidente do Instituto Aço Brasil, destacou a “preocupação gigantesca” da indústria nacional com um eventual acordo que amplie as desigualdades nas relações comerciais com a China. Para ele, é fundamental que o Brasil proteja sua produção interna e evite que a abertura para o mercado chinês afete negativamente a indústria nacional.
O governo, entretanto, segue com cautela, evitando anunciar decisões precipitadas antes de ter todos os detalhes do acordo devidamente ajustados. Xi Jinping chegará ao Brasil após o G20, e a expectativa é de que, até lá, o Brasil tenha consolidado sua estratégia para um possível anúncio oficial sobre a adesão à Nova Rota da Seda, sem comprometer sua economia e sua indústria.
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