O governo brasileiro deu um passo inédito na relação com a China ao autorizar o envio de oficiais-generais das três Forças Armadas para integrar a adidância militar da Embaixada do Brasil em Pequim. A medida, sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, rompe a exclusividade histórica dos Estados Unidos como único destino de representantes militares de alto escalão brasileiros e marca uma ampliação da cooperação de defesa com o gigante asiático.
A missão será composta por um oficial-general do Exército, que acumulará as funções de Adido de Defesa e do Exército; um contra-almirante da Marinha como Adido Naval; e um coronel da Aeronáutica como Adido Aeronáutico. Além deles, dois adjuntos darão suporte às funções diplomático-militares. Todos também serão responsáveis por representar o Brasil junto à Tailândia, ampliando a cobertura no Sudeste Asiático.
Historicamente, a presença de oficiais-generais brasileiros no exterior esteve concentrada nos EUA, reflexo de décadas de cooperação estratégica e dependência tecnológica. A nova designação é vista por analistas como um movimento para diversificar fornecedores e parceiros na área de defesa, em um contexto de aproximação mais ampla entre Brasília e Pequim. “É um gesto que aprofunda a relação estratégica com a China e amplia o diálogo para além da cooperação técnica”, avalia Rodrigo Amaral, professor de Relações Internacionais da PUC-SP.
O envio dos generais ocorre em um momento de tensões comerciais com Washington — que recentemente impôs sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros — e de interesse crescente do Brasil em consolidar canais de defesa com outros polos de poder. Especialistas ressaltam, porém, que não se trata de uma ruptura: o Brasil mantém três generais em postos de adidos nos EUA e segue ativo na interlocução com a OTAN. “O desafio será apresentar essa aproximação como diversificação, não como substituição”, observa o também professor Laerte Apolinário, da PUC-SP.
Para além da representação protocolar, os adidos militares cumprem funções estratégicas: participam de negociações de cooperação, intercâmbio de informações, visitas oficiais e monitoramento de avanços tecnológicos e industriais no setor de defesa. No caso da China, país que investe pesadamente em inovação militar e indústria bélica, essa presença abre novas oportunidades para o Brasil acessar tecnologias, estreitar vínculos e reforçar sua capacidade de atuação no cenário internacional.
Essa mudança insere-se em um contexto mais amplo de fortalecimento da relação Brasil-China, que já é marcada por intensa cooperação comercial, tecnológica e diplomática. Agora, a dimensão militar entra de forma mais robusta nesse diálogo, sinalizando que a parceria estratégica entre os dois países tende a ganhar novos contornos — e maior peso geopolítico — nos próximos anos.
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