O Brasil está prestes a se tornar um dos principais destinos para os investimentos digitais da China na América Latina. Gigantes como a ByteDance, dona do TikTok, e a Huawei, referência global em tecnologia, articulam a implantação de grandes data centers e serviços de nuvem no território brasileiro, com ênfase no uso de energia limpa e na integração entre inteligência artificial e infraestrutura local.
Segundo fontes próximas às negociações, a ByteDance deve anunciar em breve um novo centro de dados de larga escala voltado ao TikTok, enquanto a Huawei já avança em parcerias com a estatal brasileira Dataprev, universidades e o Edge UOL para ampliar sua atuação em serviços de nuvem no país.
Esses movimentos indicam não apenas o fortalecimento das relações Brasil-China no campo tecnológico, mas também uma transformação estratégica na infraestrutura digital brasileira — especialmente no Nordeste, região que vem atraindo a atenção de investidores internacionais.
Nordeste no centro da nova rota digital
Durante encontros recentes em Pequim e Dongguan, autoridades e executivos brasileiros e chineses discutiram os principais desafios para viabilizar os investimentos. A executiva Wu Xiaobin, da Corporação de Capital Internacional da China (CICC), levantou uma questão prática: como uma empresa de IA sediada na China pode operar com bases de dados no Brasil?
A resposta veio de Lucas Bispo, representante do Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (AIIB): “O Brasil já possui uma infraestrutura capaz de transferir dados da América do Sul para a Ásia de forma direta, sem passar por EUA ou Europa”.
Esse diferencial técnico, somado ao acesso a energia renovável e à segurança jurídica brasileira para empresas que não dependem do sistema financeiro americano, tem sido um trunfo nas conversas.
Energia verde e armazenamento como diferencial
O uso crescente de energia solar e eólica, embora atraente pelo custo, traz um desafio: a intermitência no fornecimento. É aí que outro ponto de interesse da China entra em cena — o armazenamento de energia. Como principal fabricante global de baterias, a China vê no Brasil uma oportunidade de aplicar sua expertise também nesse setor.
“Armazenamento é uma área estratégica hoje no Brasil”, explica Daniel Engel, do escritório Veirano Advogados. “E a China lidera globalmente essa cadeia. O casamento entre demanda brasileira e oferta tecnológica chinesa é promissor”.
Além disso, o AIIB já demonstrou interesse em financiar projetos de transição energética no Brasil, a exemplo do que tem feito em países como Índia, Indonésia e Uzbequistão.
Huawei e Edge UOL firmam parceria estratégica
No evento da Huawei, realizado em Dongguan, a empresa chinesa confirmou que vê o Brasil como peça-chave em sua expansão na América Latina. Rodrigo Lobo, COO do Edge UOL, reforçou a intenção de unir forças para acelerar a modernização da infraestrutura digital brasileira.
“Nossa ideia é expandir o mercado com foco em infraestrutura, cibersegurança e inteligência artificial”, afirmou Lobo. Já Mark Chen, presidente da Huawei Cloud América Latina, resumiu a missão: “Queremos ser a ponte entre a China e a América Latina, compartilhando nossa experiência e excelência industrial”.
Olhar além do eixo EUA-Europa
O movimento chinês no Brasil também inspira outros países latino-americanos. Para Eric Velazquez, cofundador da fintech mexicana STP, é hora de olhar para além do “caminho do norte”: “Há boas tecnologias nos EUA, mas precisamos explorar outras estratégias. E a China tem se mostrado um modelo relevante”.
Nesse novo tabuleiro geopolítico e digital, o Brasil ocupa uma posição estratégica. Se souber aproveitar, pode se tornar um hub continental de dados, inovação e cooperação tecnológica com a China — fortalecendo sua soberania digital e criando novas oportunidades econômicas em setores-chave para o futuro.
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