Enquanto a maioria dos países que suspenderam as importações de carne de frango brasileira devido ao caso de gripe aviária no Rio Grande do Sul já retomaram as compras, a China permanece entre os nove que mantêm o embargo total. A situação expõe as diferentes abordagens sanitárias internacionais e coloca em xeque parte do fluxo comercial entre os dois países, que movimentou US$ 2,1 bilhões em produtos avícolas no ano passado.
O Ministério da Agricultura brasileiro confirmou que 33 dos 42 países que inicialmente impuseram restrições já normalizaram as importações, incluindo importantes mercados como Japão e Emirados Árabes, que adotaram o princípio da regionalização – limitando as restrições apenas ao estado gaúcho. No entanto, a China, junto com Coreia do Sul, Filipinas e outros seis parceiros comerciais, optou por manter a suspensão total, contrariando os apelos do governo brasileiro.
Especialistas em comércio internacional destacam que a postura chinesa reflete seu protocolo sanitário historicamente rigoroso, mas também pode estar ligada a fatores econômicos estratégicos. “A China tem estoques elevados de proteína animal e pode estar usando este momento para reavaliar seus fornecedores globais”, explica o analista de agronegócio Marcos Jank, professor do Insper. Ele lembra que o país asiático vem diversificando suas importações, com aumento recente de compras da Tailândia e Rússia.
O impacto no setor avícola brasileiro tem sido mitigado pela capacidade de redirecionamento das exportações para outros mercados. Dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) mostram que as vendas globais de carne de frango cresceram 7% no último mês, puxadas por aumentos nas exportações para o Oriente Médio e Sudeste Asiático. No entanto, a perda do mercado chinês – que respondia por cerca de 15% do total exportado – preocupa os produtores, especialmente os de cortes específicos como pés e asas, muito demandados na culinária chinesa.
Diplomatas brasileiros em Pequim trabalham em conjunto com o Ministério da Agricultura para demonstrar os avanços no controle sanitário. “Estamos compartilhando todos os dados técnicos e oferecendo total transparência sobre as medidas adotadas”, afirmou o embaixador Marcos Galvão, destacando que o Brasil espera uma revisão da decisão chinesa nos próximos 60 dias.
Enquanto isso, o governo brasileiro busca acelerar a abertura de novos mercados como contrapeso. Na última semana, o Chile aprovou a importação de carne de frango in natura do Brasil, e negociações avançam com Vietnã e Malásia. Paralelamente, grandes processadoras como BRF e JBS têm investido em plantas específicas para atender mercados menos sensíveis a questões sanitárias, como África e América Central.
A situação atual serve como alerta para a necessidade de maior diversificação dos mercados exportadores brasileiros. “Não podemos depender excessivamente de um único comprador, por mais importante que seja”, reflete o presidente da ABPA, Ricardo Santin. Enquanto a China não retoma as compras, o setor se vê obrigado a reinventar estratégias em um cenário global cada vez mais complexo e competitivo.
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