Uma nomeação recente do Itamaraty tem nuances que passaram quase despercebidas, mas não escaparam de observadores mais astutos da relação Brasil-China, que completa 50 anos nesta semana, escreve a coluna de Marcelo Ninio no jornal O Globo.
De acordo com o colunista, Brasília nomeou um embaixador de mesmo nível hierárquico do chefe da missão brasileira na China para atuar em Taipé, capital de Taiwan.
Desde que estabeleceu laços diplomáticos com a China em 1974, o Brasil segue o princípio da política de Uma Só China com rigor. Por isso, chamou atenção a mudança observada em um decreto do dia 14 de junho.
O documento designa Luís Cláudio Villafañe Gomes Santos “para exercer a função de chefe do Escritório Comercial do Brasil em Taipé“, diz o colunista. Santos é “ministro de primeira classe”, o cargo mais elevado da carreira diplomática, também conhecido como “embaixador”.
Até agora, o Itamaraty buscava ocupar a chefia do escritório em Taipé com um profissional de nível hierárquico inferior, para deixar claro que o escritório não tem status de missão diplomática e evitar atritos com Pequim. É o caso de Miguel Magalhães, que voltou no domingo (11) a Brasília após quatro anos no cargo. Embora tenha chefiado a Embaixada do Brasil no Iraque, sua graduação é de “ministro de segunda classe“, uma abaixo da máxima, escreve Ninio.
Outra novidade no decreto é a omissão do Consulado do Brasil em Tóquio, ao qual a representação em Taiwan é subordinada. O vínculo costumava aparecer nas nomeações anteriores, evidenciando que Taipé não é uma missão independente. As nuances foram notadas por diplomatas que conhecem bem o tema, causando inquietação entre eles, relata o colunista.
Em conversas sob condição de anonimato, três ex-embaixadores brasileiros que já serviram na China e/ou em Taiwan mostraram estranheza com a variação e apontaram para o risco de mal-estar com Pequim. Em tese, lembram, a mudança poderia ser erroneamente interpretada como “upgrade” da representação brasileira em Taiwan, ainda que esta não tenha sido a intenção, diz a mídia.
À coluna, o Ministério das Relações Exteriores chinês diz que não tinha conhecimento da alteração, mas mandou um recado por meio de seu porta-voz.
“Só existe uma China no mundo, e Taiwan é parte inalienável do território da China. Acredito que o governo brasileiro continuará a aderir inabalavelmente ao princípio de ‘Uma Só China’”, afirmou o porta-voz, citado pelo jornal.
Pequim vê Taiwan como uma província renegada que pertence por direito à China no âmbito da política de Uma Só China. A ilha autogovernada não declarou formalmente sua independência, mas afirma já ser, mantendo laços próximos a países ocidentais, principalmente os Estados Unidos.
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